Um dos mais ricos acervos literários da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) está longe dos olhos do público. Mas a causa é nobre. A coleção do ex-deputado federal Victor Russomano foi doada à instituição em 2012, e - após ficar três anos em espaço inadequado - agora passa por restauração na sala do Núcleo de Documentação Histórica (NDH) da UFPel.

As obras de grandes escritores do século 19 foram doadas em 27 caixas de papelão e permaneceram na Biblioteca de Ciências Sociais, localizada no térreo do Instituto de Ciências Humanas (ICH) até outubro de 2015, quando começaram a mudar de endereço.

Hoje, no NDH, localizado no Lyceu, de acordo com a coordenadora de bibliotecas da UFPel, Daiane Schramm, o material está nas mãos de um grupo de pesquisa liderado pelo professor Elomar Tambara, com membros do curso de Conservação e Restauro.

O acervo precisa passar por processos de higienização, restauração e conservação. Os reparos são necessários não somente porque a coleção contém artigos raros de autores nacionais e estrangeiros, mas pela antiguidade.

A coordenadora de bibliotecas da UFPel afirma que não há prazo para o processo de restauração terminar, nem para estar disponível para consulta de pesquisadores e demais interessados. “É um processo de longo prazo.”

Mas o destino final do espólio deve ser a Biblioteca Retrospectiva. O espaço ficará localizado na antiga Laneira Brasileira, construída na década de 1950 para abrigar a empresa beneficiadora de lã, cujas atividades foram encerradas em 2003. O prédio pertence ao patrimônio da UFPel desde 2010.

O destino da edificação é se tornar centro de cursos e ambientes voltados para a cultura, como a Casa dos Museus e a própria Biblioteca Retrospectiva, para abrigar todas as obras de valor histórico da instituição. A revitalização da Laneira já possui projeto, mas ainda faltam recursos para sair definitivamente do papel.

Acervo do ex-ministro
Outra coleção de livros da família, a do jurista e ex-ministro Mozart Victor Russomano foi doada - também em 2012 - ao Tribunal Superior do Trabalho (TST) em Brasília. Das 4.800 obras, 2.426 foram selecionadas e passaram por higienização antes de estarem disponíveis para consulta na biblioteca do próprio TST.

Os demais livros foram ofertados a instituições públicas como Tribunais Regionais do Trabalho, universidades federais, Procuradorias Regionais do Trabalho, Senado Federal, Câmara dos Deputados, Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça e Ministérios da Justiça e do Trabalho.

Victor Russomano (1890-1937)
Pelotense nascido em 1890, bacharel em Ciências e Letras, doutor pela Faculdade Nacional de Medicina, do Rio de Janeiro, casou-se em 1916 com a também pelotense, Elda Delfina Costa da Costa, com quem teve dois filhos, Rosah Russomano e Mozart Victor Russomano. 

Victor foi vereador de Pelotas em dois mandatos sucessivos, de 1916 a 1920. De 1921 até a Revolução de 1930 foi Deputado Estadual, pelo Partido Republicano Riograndense. Exerceu o cargo de Delegado do Rio Grande do Sul, no Conselho Federal do Instituto de Amparo Social, por indicação do general Flores da Cunha, além de médico na Santa Casa de Misericórdia e na Beneficência Portuguesa de Pelotas.

Suas obras publicadas como escritor foram: A história natural do educando (1914), A escravidão social da mulher (1914), História constitucional do Rio Grande do Sul (1932) e Adagiário gaúcho (1938).

Depois do Governo Provisório, instalado pela Revolução de 1930, Victor foi eleito, em 1933, Deputado da Assembleia Nacional Constituinte, sendo reeleito para a Câmara Federal em 1935. Em 1936 formou-se em Direito na Faculdade de Pelotas.

No dia 19 de setembro de 1937 sofreu um derrame súbito enquanto discursava no Teatro Apolo, da cidade de Caxias do Sul. Morreu no dia seguinte, aos 45 anos.

Fonte: mozartvictorrussomano.blogspot.com.br